O sistema trólebus de São Paulo completa, hoje, dia 22 de abril, 75 anos de operação na cidade de São Paulo. Inaugurado em 1949, sendo o pioneiro do país, o sistema sofreu com altos e baixos ao longo dessas mais de 7 décadas. A maior baixa foi entre os anos de 2002 e 2004, quando foram desativadas todas as linhas da zona norte, de Pinheiros, Butantã e Santo Amaro.
Curiosamente, a primeira linha de trólebus inaugurada, circula até os dias de hoje, sendo ela a 408A/10 – Machado de Assis/Cardoso de Almeida, que liga as referidas vias, passando pelo centro de São Paulo. Quando da inauguração, essa linha ia da Praça João Mendes até a Praça General Polidoro, na Aclimação.
Atualmente, porém, o sistema sofre com outro risco iminente, já que o atual prefeito, Ricardo Nunes (MDB), que vai tentar a reeleição, já afirmou que vai acabar com o sistema trólebus. Além dele, o pré-candidato, Guilherme Boulos (PSOL), também já deu declarações contrárias aos trólebus em entrevista recente.
Outro ponto que merece atenção é a ampliação da frota dos ônibus elétricos a bateria, que vem sendo colocada em circulação na capital paulista. O problema maior é que alguns acreditam que eles são os sucessores dos trólebus, algo completamente equivocado. Como já cansamos de dizer, há espaço para todas as tecnologias, cabendo ao gestor público e aos especialistas avaliarem o melhor local de circulação, sempre analisando os pontos positivos e negativos.
Um detalhe contraditório é o posicionamento do prefeito Ricardo Nunes. Enquanto reclama e critica os valores necessários para a manutenção da rede aérea e os problemas dos trólebus, ao mesmo tempo, direciona bilhões de reais para ajudar as empresas (por meio de financiamento) a comprarem ônibus a bateria e, pior, sem uma infraestrutura disponível para a recarga desses veículos. Atualmente alguns desses veículos ficam parados nas garagens.
Por outro lado, mesmo com essa forte ameaça aqui na cidade de São Paulo, os trólebus serão fortalecidos no ABC Paulista, a partir da implantação do BRT ABC, corredor que ligará São Bernardo a São Paulo e operará com um novo modelo de trólebus, chamado de E-Trol, que combina trólebus com ônibus a bateria. Esse novo veículo terá longa autonomia para circular desconectado da rede aérea, tanto é que o corredor será eletrificado em um dos sentidos apenas.
Ainda sobre o E-Trol, para o Plamurb, essa será a garantia de sobrevida do sistema, já que, diferentemente dos ônibus a bateria, não há a necessidade de implantação de estruturas parrudas de recarga nas garagens. O E-Trol vai recarregando as baterias quando as alavancas estão conectadas na rede aérea, reduzindo custos globais.
Se aqui na cidade de São Paulo tivéssemos políticos comprometidos com a causa pública, o E-Trol poderia ser testado na capital em alguma linha atualmente operada por trólebus ou mesmo em itinerários que usariam apenas parte da rede aérea.
Não vamos contar detalhes históricos do sistema, pois já fizemos isso em diversos outros artigos. Vamos, na verdade, deixar o link desses artigos logo abaixo, para que vocês tenham uma ideia da importância do trólebus, sua completa viabilidade e o quanto o sistema foi negligenciado pelos últimos prefeitos que conduziram a cidade.
Para finalizar esse artigo, vamos reforçar: a decisão de desativar os trólebus é puramente política. Não acredite se algum político falar em argumentos técnicos. Até hoje a decisão sempre foi política, até porque a tecnologia envolvendo o trólebus evoluiu significativamente, tanto é que eles são amplamente utilizados na Europa.
Logo seguir, vamos deixar os links de alguns dos artigos onde abordamos o tema trólebus acerca dos mais variados assuntos. Vejam:
- História do sistema trólebus: parte 1, parte 2 e parte 3;
- Desativação parcial do sistema trólebus;
- BRT ABC e o E-Trol;
- A rede de trólebus do ano 2000 adequada aos dias atuais;
- Trólebus circulando em todos os corredores de São Paulo;
- Declaração do prefeito Ricardo Nunes sobre querer desativar os trólebus;
- Plano SISTRAN;
- Diagnóstico do sistema trólebus paulistano.
Caso tenham interesse em mais artigos do Plamurb sobre os trólebus, entre no campo de busca (onde tem o desenho de uma lupa), digite a palavra “trólebus” e clique em buscar. Já escrevemos dezenas de artigos.
Oi, Thiago, este é o posicionamento oficial da SPTrans sobre o tema, em resposta a manifestação minha:
“Prezado Pedro,
Relativamente ao protocolo 31601105, registrado no Portal SP156, comunicamos a área técnica responsável, que se manifestou como segue:
“Em que pese as qualidades não poluentes dos trólebus, esta tecnologia oferece pouca flexibilidade operacional. A rede aérea instalada nas vias e avenidas, além do impacto visual que causam, também são muito vulneráveis a acidentes com terceiros e estão muito expostas a descargas atmosféricas que desativam o sistema de alimentação e por consequência causam grandes transtornos operacionais. Essa condição impacta negativamente na confiabilidade operacional do sistema, produzindo prejuízos aos usuários.
Diferente do sugerido no processo, a quantidade de veículos necessários para operar as linhas, não está atrelada a tecnologia do trem de força. A capacidade de carga tanto dos trólebus como dos ônibus a baterias, deve atender ao definido na norma ABNT 15.570.Com relação a coleta de dados, no caso dos ônibus a baterias, esta é feita em ambiente controlado, no interior das garagens, através dos próprios cabos de carga, portanto essas redes são absolutamente confiáveis e de dimensões extremamente reduzidas.
Com relação às tensões de alimentação, estas são definidas já na raiz do projeto, alterá-las significa investir no desenvolvimento de novos projetos e equipamentos, impactando no preço dos veículos e principalmente no seu peso. Quanto a sugestão de implantação em escala da rede aérea na Cidade, não podemos pensar somente no elevado custo dessa implantação, pois é necessária a instalação de postes de ambos os lados das ruas e avenidas, remoção das interferências das redes de cabos de dados, telefônicos, TV, etc. que já estão instalados, como também considerar que se trata de um sistema de grandes dimensões, e que necessita de um contingente elevado de profissionais especializados, distribuídos em várias bases de manutenção para poderem operar vinte e quatro horas por dia em sete dias por semana esse sistema. Representando um custo de implantação, operação e manutenção extremamente elevado.
Quanto aos gastos com a aquisição dos equipamentos, o desembolso irá ocorrer para ambas as soluções que se adotem, com a diferença de que os equipamentos instalados no interior das garagens, para alimentar os ônibus a baterias, não correm o risco de vandalismos ou acidentes com terceiros.
Com relação a confiabilidade do sistema, a SPTrans tem contato direto com a Enel e desde o início dos estudos para a implantação da Frota Piloto de ônibus a baterias, a concessionária de energia vem participando de reuniões com as empresas e Órgãos da PMSP, para tratar da implantação em escala do projeto de substituição da frota diesel por ônibus elétricos e possui conhecimento detalhado dos planos de eletrificação da frota de ônibus da cidade.
Diferente do trólebus que utiliza energia elétrica nos horários de ponta, onde esta é significativamente mais cara, o plano de eletrificação da frota de ônibus a baterias, prevê que a recarga dos veículos seja feita durante a madrugada, quando há maior ociosidade na utilização da rede de distribuição de energia elétrica e esta não é sobretaxada.
Atualmente a demanda de energia para a recarga da frota está dentro do limite previsto pela Aneel para os circuitos de média tensão que estão instalados na Cidade. Com a evolução do projeto de substituição da frota diesel por ônibus elétricos, será necessária a utilização de circuitos de alta tensão, como ocorre atualmente nas linhas do sistema metroferroviário. Essa medida irá conferir maior disponibilidade de energia e confiabilidade de fornecimento para as garagens, colocando esse sistema de alimentação no mesmo patamar de segurança dos sistemas que suprem o transporte sobre trilhos.
A PMSP está empenhada na substituição da matriz energética da frota de ônibus municipal por tecnologia limpa. Esta ação, além de estar em consonância com a Lei de Mudanças Climáticas, é essencial para reduzir a emissão de poluentes e melhorar a qualidade do ar e a vida dos paulistanos.”
At.te”
CurtirCurtir