Montagem do prefeito Ricardo Nunes e trólebus (Foto: Wilson Dias/Agência Brasil e Thiago Silva)

Que o atual prefeito da cidade de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB) tem deixado a desejar na área de mobilidade urbana, todos sabem, porém, não imaginávamos que sua visão fosse tão limitada com relação ao sistema trólebus paulistano.

No último dia 22 de agosto, o prefeito foi entrevistado pela Rádio CBN e falou sobre diversos assuntos, entre eles a mobilidade urbana. Quando foi questionado sobre a inclusão dos ônibus a bateria, Nunes foi enfático ao afirmar que quer retirar todos os trólebus de circulação.

“Quero tirar aquilo!”, disse o prefeito, que continuou dizendo que acha os trólebus, velhos, antigos e problemáticos. Após essa declaração lamentável, a entrevista prosseguiu normalmente, sem maiores esclarecimentos.

A atual gestão vem se esforçando para incluir novos ônibus elétricos a bateria na frota paulistana. A promessa é de que até o final do ano quem vem, cerca de 2600 veículos já estejam rodando na cidade. Porém, até agora, poucos veículos, de fato, foram apresentados. Os que já rodam são aqueles da empresa Transwolff, que operam na zona sul da cidade e são, em sua totalidade, 18 unidades. Além deles, há os 201 trólebus, que também são elétricos, mas conectados à rede aérea.

Muito embora os trólebus sejam preteridos e tratados como veículos antigos, obsoletos ou problemáticos, a realidade é completamente diferente. Se aqui no Brasil esse tipo de veículo opera de forma adversa, lá fora, sobretudo nos países europeus, os trólebus estão bem presentes.

Países como a França, Itália, Suíça, República Tcheca, Romênia, Bulgária entre dezenas de outros, operam trólebus supermodernos, com tecnologias de ponta e distantes da realidade brasileira. Nesses locais, os trólebus possuem bateria de longa autonomia e alavancas pneumáticas, além da rede aérea do tipo flexível e dotadas de sistemas modernos que praticamente anulam o escape das alavancas ou suas quebras.

Saindo da Europa, no México, em sua capital, os trólebus estão em plena ampliação, com novos veículos sendo adquiridos, novas linhas e rotas sendo criadas ou ampliadas. Os trólebus vêm com a tecnologia presente nos veículos europeus.

Entre os avanços significativos, estão o banco de baterias, de porte menor que os dos ônibus elétricos, mas suficientes para o tráfego por um longo trecho quando da ocorrência de algum problema na rede aérea, por exemplo. Isso praticamente reduz a zero a interrupção da viagem.

O Plamurb acredita que há espaço para todas as tecnologias na cidade. E mesmo a prefeitura priorizando os veículos a bateria, muitas coisas ainda não estão esclarecidas, por exemplo:

  • Como será o descarte das baterias após sua vida útil?
  • Haverá estrutura suficiente para a recarga dos 2600 veículos?
  • Os veículos possuem grau de confiabilidade consagrado?
  • Como será diluído o custo dos veículos comprados pelas empresas?

São perguntas que precisam estar bem claras para que o fracasso do EcoFrota não se repita de novo.

Um ponto interessante, no que diz respeito à infraestrutura de recarga dos veículos, mostra que os trólebus com bateria de longa autonomia possuem vantagem. Nesse caso, o trólebus vai recarregando suas baterias estando conectado à rede aérea, ou seja, durante sua operação normal ao longo do dia, sem a necessidade de ir até a garagem, por exemplo. Além disso, o fato de possuírem baterias permite a simplificação da rede aérea, sobretudo nas garagens e terminais de ônibus.

A empresa Eletra, que fabrica componentes e sistemas para trólebus, está para apresentar seu novo veículo, o E-trol, um novo trólebus com banco de baterias de longa autonomia, que anulará os problemas descritos acima. Essa poderá ser uma reviravolta do sistema paulistano, claro, se o prefeito Ricardo Nunes tiver a mente aberta.

E falando em prefeitura, a omissão da gestão municipal é um dos maiores inimigos da boa operação do trólebus. Atualmente a manutenção da rede é insuficiente, o asfalto irregular e esburacado atrapalha a circulação dos veículos, além da falta de prioridade ao transporte público nas ruas de uma maneira geral.

E não podemos esquecer a Lei Nº 16.802 de 17 de Janeiro de 2018 que trata da inclusão de veículos menos poluentes na frota de ônibus de São Paulo, indicando o uso dos trólebus. O parágrafo 4º do Art.1 diz haver a priorização da frota de trólebus:

“§ 4º O processo de substituição de frota por insumos energéticos e tecnologias mais limpas deve priorizar a expansão da frota de trólebus, com unidades novas equipadas com bancos de baterias, no mínimo, até que a atual rede de distribuição de energia não fique com capacidade ociosa.”

Aliás, senhor prefeito, essa Lei está sendo cumprida? Pelo visto não, né?

Logo abaixo, segue o link da entrevista completa. O trecho onde ele dá essa declaração completamente infeliz começa a partir de 1h32m00s.