Reservatório com baixo nível (Foto: Governo do Estado de São Paulo)

Sim. As possibilidades existem, mas em um contexto um pouco diferente daquele dos anos de 2014 e 2015, quando tivemos racionamento de água e chegou-se a usar cotas do volume morto do Sistema Cantareira, por exemplo.

Mas antes de prosseguirmos, é preciso entender que períodos de seca e de chuvas são sazonais, portanto, quando algum governante se diz surpreso com a estiagem ou com o excesso de chuvas, não é uma verdade. Esses períodos são identificados com grande antecedência, ou seja, é possível sim se programar. O que o São Paulo passou 6 anos atrás foi, principalmente, o reflexo de uma ingerência dos recursos hídricos.

Falando, agora, do momento atual, há três fatores que podem ser os responsáveis por uma eventual nova crise hídrica. O principal é, sem dúvidas alguma, o La Niña.

Grosso modo, o La Niña é um fenômeno natural que faz com que chova menos na região Sul e Sudeste do país. Essa escassez influencia nos níveis dos reservatórios.

Segundo a página Brasil Escola, o La Niña “consiste em uma alteração cíclica das temperaturas médias do Oceano Pacífico, sendo observado principalmente nas águas localizadas na porção central e leste desse oceano. Tal transformação é capaz de modificar uma série de outros fenômenos, como a distribuição de calor, concentração de chuvas, formação de secas e a pesca. Quando a alteração da temperatura das águas do Oceano Pacífico aponta para uma redução das médias térmicas, o fenômeno é nomeado de La Niña. Resumindo: o efeito La Niña está ligado ao resfriamento das temperaturas médias das águas do Oceano Pacífico, representando exatamente o oposto do fenômeno El Niño, que produz um aquecimento anormal de suas temperaturas.

Da mesma maneira que o El Niño, as origens do La Niña ainda são bastante controversas no meio científico, mas sua alternância com o El Niño aponta para as mudanças de intensidade de calor solar, ou seja, ciclos solares que ora determinam maior radiação solar e consequente aquecimento das águas do Pacífico, ora determinam enfraquecimento da radiação solar que alcança o planeta, promovendo o resfriamento da temperatura das águas do Pacífico. Em se tratando de um oceano que cobre praticamente 1/3 da superfície terrestre, as implicações dessas alternâncias são muito amplas e repercutem na distribuição de calor e umidade em diversas partes do globo.

O fenômeno La Niña ocorre nos intervalos entre o El Niño e a situação de normalidade das temperaturas do Oceano Pacífico. Sua ocorrência decorre do fortalecimento das zonas de alta pressão subtropicais, localizadas aproximadamente em uma latitude de 30º. Por esse motivo, os ventos alísios, que nascem exatamente nessa localização, ganham maior intensidade, lembrando que os ventos são originados pela formação de zonas de alta pressão. O ar mais frio, e ao mesmo tempo mais denso, potencializa a força da pressão atmosférica e, consequentemente, dos ventos.”

No Brasil, o fenômeno La Niña provoca estiagem nas regiões Centro-Oeste, Sudeste e principalmente Sul. Por outro lado, no Nordeste e na Região Amazônica são verificados aumentos na intensidade das chuvas, podendo até mesmo resultar em cheias mais expressivas de alguns rios amazônicos e de enchentes mais vigorosas no litoral nordestino. Basta ver o que vem acontecendo com o Rio Negro em Manaus, por exemplo, onde seu nível chegou a 30 metros de altura.

No caso aqui de São Paulo, segundo levantamento da Sabesp, as chuvas têm sido menores nos últimos meses, se fizermos um comparativo com séries históricas, por exemplo. Os níveis dos principais reservatórios estão abaixo daquilo considerado ideal, ou seja, que pode garantir um bom abastecimento nessa época do ano.

É comum, por exemplo, os reservatórios garantirem um bom nível de água nos períodos de chuva, compreendido entre dezembro e março, para, nos meses seguintes, de estiagem, compensar o baixo índice pluviométrico. Se chove menos, o abastecimento fica comprometido.

Claro, que como dissemos no início do texto, a situação tende a ser diferente, até pelas obras realizadas pela Sabesp, como o novo sistema São Lourenço, inaugurado em 2018, mas não tão menos preocupante. Aliás, o baixo nível em algumas represas, impacta também na conta de luz, já que entra em uso as usinas termelétricas, poluidoras e com um custo alto.

Embora o La Niña seja o principal fator, há outros que colaboram com a seca, de forma recorrente, como o desmatamento na Amazônia e o aquecimento global. No caso do desmatamento, uma das principais consequências é o período de seca mais frequente e por um período maior que está atrelado ao que escrevemos acima, ou seja, menos tempo para os reservatórios aumentarem seus níveis nos períodos chuvosos. Com menos verde, os “rios voadores”, que levam umidade da Amazônia para outras regiões do país ficam comprometidos.

Quando se trata do aquecimento global, estamos falando dos gases poluentes que são lançados na atmosfera e impactam nas mudanças climáticas. E parte desses gases decorrem, justamente, das queimadas e das termelétricas que são ligadas para dar fôlego aos reservatórios usados nas hidrelétricas. É um círculo vicioso.

Se por um lado o La Niña é algo mais pontual, os outros dois fatores são recorrentes e há tempos que são discutidos.

Caberá aos governantes estruturar planos para minimizar os impactos dessa estiagem. A Sabesp garante que não faltará água, mas reforça que se deve economizar. E isso é regra em qualquer época ou momento.