Trólebus na Avenida Celso Garcia (Foto: Thiago Silva)

No último dia 28 de julho, foi ao ar uma reportagem do Jornal SP2 mostrando as falhas do sistema trólebus paulistano, elencando as linhas que mais tiveram problemas no ano de 2022. No ano em questão, a linha 2290 (Term. São Mateus/Term. Parque Dom Pedro II) foi a campeã, com 805 falhas. Em seguida veio a linha 342M (Term. São Mateus/Term. Penha), com 488 falhas. Logo após, veio a 4113 (Gentil de Moura/Praça da República), com 397 falhas. Na reportagem entrevistaram alguns passageiros que, obviamente, relataram a insatisfação com o sistema.

O especialista Ayrton Camargo e Silva foi entrevistado e mostrou as vantagens dos trólebus, vantagens essas que o Plamurb já elencou aqui diversas vezes. Além disso relatou que os ônibus elétricos com bateria ainda possuem algumas desvantagens, mesmo a prefeitura já tendo deixado claro a intenção de colocar cerca de 2600 veículos em circulação até o final do ano que vem.

Coincidência ou não, há duas semanas entramos em contato com a assessoria de imprensa da São Paulo Transportes (SPTrans) questionando, novamente, sobre a linha 390E, sobre a ampliação da rede de trólebus, ou, ao menos, um melhor aproveitamento da rede existente, que se encontra subutilizada. Vejam a resposta:

“A SPTrans trabalha para a renovação constante da frota da cidade por modelos mais confortáveis e modernos. Desde 17 de outubro de 2022, não é mais permitida a inclusão de veículos movidos a diesel no sistema de transporte da cidade. A responsabilidade de aquisição dos veículos elétricos é das concessionárias que, até o momento, apresentaram 2.292 pedidos para aquisição de ônibus elétricos, que deverão ser entregues entre 2023 e 2024, em consonância com a Lei de Mudanças Climáticas e o Programa de Metas da Prefeitura 2021-2024.

Atualmente, nove linhas da rede municipal de ônibus utilizam o trólebus em uma frota de 190 veículos. A linha 390E-10 Term. Penha – Term. Pq. D. Pedro II tem a previsão de ser operada por veículos elétricos, sejam eles trólebus ou movidos a bateria.

A implantação ou ampliação de rede de trólebus na capital é considerada desfavorável, se comparada à introdução de uma frota similar movida a baterias, principalmente se forem considerados os prazos e custos envolvidos. Não há previsão de desativação da rede de trólebus atual em curto prazo. Conforme os cronogramas de substituição de frota apresentados pelas concessionárias, a opção atual é pela tecnologia de veículos de tração elétrica a bateria.”

A Lei que prioriza o trólebus

No questionamento junto à SPTrans, fizemos menção a um trecho de Lei que prioriza o uso do trólebus. Para vocês entenderem melhor, a Lei Nº 16.802 de 17 de Janeiro de 2018 que trata da inclusão de veículos menos poluentes na frota de ônibus de São Paulo, indica o uso dos trólebus. O parágrafo 4º do Art.1 diz haver a priorização da frota de trólebus:

“§ 4º O processo de substituição de frota por insumos energéticos e tecnologias mais limpas deve priorizar a expansão da frota de trólebus, com unidades novas equipadas com bancos de baterias, no mínimo, até que a atual rede de distribuição de energia não fique com capacidade ociosa.”

Embora a Lei esteja ainda em vigor, não estamos notando um movimento da SPTrans nesse sentido, já que estão sendo divulgados apenas a compra de ônibus elétricos a baterias. Como podem ver, na resposta sequer fizeram menção a esta Lei, ou seja, ignoraram completamente a lei (e o questionamento do Plamurb).

Hoje a rede de trólebus paulistana está ociosa, com locais onde novas linhas poderiam ser criadas. A própria linha 390E (Term. Penha/Term. Pq. Dom Pedro II) que consta no Edital que passaria a operar com trólebus, ainda continua a circular com veículos comuns movidos a diesel. Em questionamentos anteriores, a SPTrans desconversou sobre a operação dessa linha por trólebus, inclusive colocando a possibilidade de operar com ônibus a bateria. E com essa nova resposta, praticamente anulou a probabilidade dos trólebus nessa linha, lamentavelmente.

Falar que não querem ampliar ou desativar a rede no curto prazo tende a deixar o sistema capenga e em uma incerteza frustrante. Falar que a ampliação da rede é desvantajosa é algo completamente subjetivo. Desvantajosa para quem? Para o empresário de ônibus? Para o passageiro? Ou para o poder público?

A viabilidade dos trólebus já está comprovada, cabendo a necessidade de estudos aprofundados sobre os locais onde poderiam circular. Não podemos ficar refém de uma tecnologia apenas. Temos que ter todas elas em uso.

Com 135 quilômetros de corredores, porque os trólebus rodam em apenas 4,0 km? Hoje já existem trólebus com baterias que permitem a continuidade da operação mesmo nas falhas operacionais. Inclusive essa tecnologia poderia baratear o uso do trólebus, com a não obrigação de instalar redes complexas nas garagens, terminais e região central. E ainda por cima não tornaria necessária a implantação de toda a infraestrutura para a recarga dos ônibus puramente a bateria. Seria um ganho para todos.

Se depender do Plamurb, continuaremos questionando e pressionando a SPTrans sobre a continuidade dos trólebus. É injusto demais decretar a “morte” de uma tecnologia que ainda tem espaço de sobra nas grandes cidades.