Trólebus andando desconectado da rede (Foto: Thiago Silva)

No mundo todo existem mais de 40 sistemas trólebus em operação, com destaque para o continente europeu, onde esse tipo de veículo continue firme e forte. Países da região sudeste do velho continente que o digam.

No Brasil, a situação não é nem um pouco tranquila, muito pelo contrário. Vez ou outra o sistema é ameaçado por decisões políticas de gestores que não são comprometidos com o meio ambiente e políticas de transporte.

Mas qual a razão dos trólebus serem fortes na Europa e tão desdenhados aqui no Brasil? Existem muitas respostas para essa pergunta, mas neste artigo vamos focar um pouco na questão técnica, que fez com que muitos problemas comuns aqui fossem superados lá fora, tornando esse tipo de veículo muito mais competitivo, confiável e barato. Listaremos, então, algumas das principais inovações que tornaram os trólebus tão difundidos em outros países, e que poderiam ser implementadas aqui no Brasil, melhorando a imagem desse tipo de veículo, podendo, inclusive, ser um impulso tão necessário para a ampliação de sua presença na cidade. Vejam:

Rede flexível

A rede aérea é o “tanque de combustível” do trólebus e compõe-se de dois fios paralelos por onde as alavancas deslizam ao longo do trajeto. Sua altura, em relação ao solo, varia de 4,5 metros a 5,8 metros.

A rede aérea é sustentada pelos tirantes, cabos transversais, que são presos aos postes ou em imóveis do entorno ou através de braços metálicos que são, também, presos em postes. Ela pode ser do tipo rígida ou flexível.

A principal vantagem da rede flexível é, justamente, acompanhar a movimentação veicular, em decorrência das imperfeições viárias ou obstáculos. Isso faz com que o desgaste da rede e do equipamento que nela se conecta seja menor. Além disso, os trólebus podem desenvolver uma velocidade maior, reduzindo a incidência dos escapes de alavancas, principalmente nas curvas. Sendo assim, há um ganho na eficiência operacional da viagem.

Em São Paulo, por exemplo, historicamente, a rede sempre foi do tipo rígida. Entretanto, a partir dos anos 2000, os primeiros testes foram iniciados. Atualmente, boa parte da rede elétrica foi substituída por mecanismos flexíveis e, por isso, é totalmente perceptível uma melhora na circulação.

Suporte flexível (Foto: Thiago Silva)

Postes ornamentais

Os postes ornamentais são mais simples e com seu desenho que se harmoniza com todo o entorno, reduz o impacto urbano negativo. Além de sustentar a rede aérea, esses postes podem ser usados para a iluminação pública, tornando os custos menores com um aproveitamento maior.

Quando colocados no canteiro central de ruas e avenidas, sua presença se mistura entre as árvores, por exemplo, reduzindo drasticamente a percepção de que o equipamento está ali. Além disso, esse tipo de poste desobriga a implantação dos tirantes, melhorando ainda mais o ambiente do ponto de vista urbanístico.

Postes ornamentais em Nancy, França (Foto: Movimento Respira São Paulo)

Subestações compactas

Atualmente existem dois tipos de subestações, sendo que uma delas ocupa grandes terrenos e alimenta um trecho de até cinco quilômetros e outras, compactas, que alimentam um trecho de até dois quilômetros.

Usando os equipamentos compactos, é possível sua implantação, por exemplo, junto ao canteiro central, com a possibilidade de aproveitar áreas públicas no decorrer de corredores exclusivos. Isso permite uma grande redução de custos e uma facilidade de acesso para a manutenção ou reparo.

Subestação compacta (Foto: Movimento Respira São Paulo)

Alavancas pneumáticas

As alavancas dos trólebus são impulsionadas para cima por meio de ação de molas instaladas em sua base. Em situações onde o trólebus tenha que desviar de algum obstáculo ou trafegar afastado do centro da rede, a alavanca pode escapar, ocasionando um atraso na viagem. O motorista ou cobrador, então, precisa descer para recolocá-la de volta a rede. Em dias chuvosos, isso acaba por gerar um inconveniente.

Com o sistema pneumático, as alavancas, além da menor possiblidade de escape, podem ser controladas de dentro do veículo. Isso significa que os funcionários podem continuar dentro do veículo e reposicioná-la na rede de alimentação.

Além disso, por ser um sistema de pistões, a velocidade ao trafegar afastado da rede pode ser muito maior do que no sistema de molas, uma vez que neste último, elas tendem a serem atraídas em direção ao veículo, situação essa quase inexistente no sistema pneumático. Lembrado que esse sistema pode substituir os recuperadores mecânicos.

Alavancas pneumáticas (Foto: Movimento Respira São Paulo)

Marcha autônoma

A marcha autônoma nada mais é do que a possibilidade do trólebus trafegar alguns quilômetros desconectado da rede aérea. Em outros países, esse avanço tecnológico existe há muitos anos. Em alguns casos, há um motor a diesel no trólebus, entretanto é menos comum. Na maioria dos casos, os veículos possuem um banco de baterias com determinada autonomia.

Aqui em São Paulo, essa tecnologia foi implementada na década passada. Atualmente, cerca de 50 trólebus podem trafegar por até 7 km desconectados da rede aérea. Pode parecer pouco, mas anos atrás, um simples bloqueio em um quarteirão, já era suficiente para paralisar toda a operação de determinada linha, obrigando a substituição por veículos a diesel. Por esta razão, esses 7 km são suficientes para realizar desvios, contornar acidentes ou buracos, e até permitir a operação em uma falta de energia.

Vale ressaltar que quanto maior for a autonomia do banco de baterias de um trólebus, maior será a possibilidade do prolongamento do itinerário em situações atípicas, ou até a desobrigação de instalação de rede aérea em terminais, garagens ou regiões mais centrais.

Trólebus andando desconectado da rede aérea (Vídeo: Plamurb)

Modicidade energética

A redução do custo da tarifa de energia elétrica para o transporte público é uma ação importantíssima. Mais do que uma inovação, é uma política pública que deveria estar na pauta de qualquer governo, já que beneficia não apenas o sistema, como também quem faz o seu uso. Sistema sobre trilhos também seriam beneficiados.

De uma maneira geral, algumas das inovações do sistema trólebus já estão implantadas aqui no país, em parte de seus três sistemas. É muita ingenuidade acreditar que o sistema que opera hoje é o mesmo de quando ele foi implantado integralmente. Mudanças e evoluções acompanham todo esse processo. Mas no caso do Brasil, essas evoluções podem e devem ser maiores.

Enquanto muitos torcem o nariz para o sistema e desejam seu fim, ignorando completamente suas inovações, os trólebus vão recebendo incrementações que reduzem ou até anulam alguns dos problemas bem conhecidos por quem usa.  

Vale lembrar que o poder público sabe de tudo isso, mas muitas vezes fecha os olhos para a realidade, negligenciando e dando com os ombros sempre que se fala em ampliação do sistema trólebus, optando por tecnologias que ainda não atingiram um grau de confiabilidade de modo a tornar abundante na cidade.