Nova faixa exclusiva (Foto: SPTrans)

Mobilidade urbana, embora esteja em grande evidência no momento, em algumas gestões, foi um tema polêmico e que passava despercebido, em certos casos, propositalmente. A gestão de João Doria e Bruno Covas (ambos do PSDB) são a prova disso. Com esses dois no comando da prefeitura, o transporte público ficou muito, mas muito aquém das reais necessidades do paulistano. As faixas exclusivas para ônibus foram as mais impactadas com essa decisão política de não fomentar ou ampliar esse tipo de estrutura.

Para se ter uma ideia, a única faixa exclusiva implantada, de fato, na gestão dos dois tucanos foi uma na Avenida do Estado entre a Marginal Tietê e a Avenida Santos Dumont, beneficiando apenas linhas da Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos (EMTU), já que ali não passa nenhuma linha municipal regular. O detalhe é que essa faixa foi inaugurada em meados de 2017, ou seja, desde então, a cidade parou no tempo neste sentido.

De lá para cá, houve muitas discussões sobre como e onde implantar novas faixas, mas nada de concreto, infelizmente.

Agora, tentando recuperar o tempo perdido, a gestão de Ricardo Nunes (MDB) começa a dar os primeiros sinais de que pretende ampliar essas estruturas que ajudam bastante na fluidez e operação dos ônibus.

Na última segunda-feira, dia 27 de setembro, foi entregue uma nova faixa exclusiva no Viaduto Antártica. Com 1,9 km de extensão somando os dois sentidos, a estrutura está localizada entre a Avenida Marquês de São Vicente e Rua Barão de Tefé. O funcionamento será de segunda a sexta-feira, das 6h às 9h no sentido centro e das 16h às 20h no sentido bairro. Quatro linhas de ônibus vão utilizar as faixas exclusivas. Serão beneficiados 46.629 passageiros diariamente, segundo informações da Secretaria Executiva de Mobilidade Urbana (SETRAM) e da São Paulo Transporte (SPTrans). O trecho em questão fará a conexão de outras duas faixas existentes, permitindo uma circulação fluída continuadamente.

É pouco, muito pouco, mas sem dúvidas é um começo para uma gestão que ficou parada no tempo, discutiu muito e não entregou nada. Nunes era vice do Covas, que por sua vez foi vice do Doria. Logo, é quase que uma mesma gestão, cada qual com sua assinatura, é claro.

No Plano de Metas consta que até 2024 a prefeitura quer implantar, ao menos, 50 novos km de faixas exclusivas, um número absurdamente baixo. Para se ter uma ideia, na gestão de Fernando Haddad (PT), foram implantadas cerca de 400 km, uma média de 100 km por ano. Muitos podem alegar que a comparação é ingrata, mas é preciso compreender que faixa exclusiva é uma estrutura simples e barata. Não demanda grandes recursos ou aportes para a sua ampliação. Por esta razão, a não implantação desse tipo de estrutura, sabendo das reais necessidades, tem uma boa dosagem política e não técnica.

Ainda falando do Plano de Metas, do qual comparecemos em 3 audiências públicas e onde falamos justamente das faixas, a prefeitura repetiu algumas vezes que esses 50 km seria um valor mínimo, podendo ultrapassá-lo a depender do grau e tempo de antecipação da meta. Que assim seja, afinal o tempo perdido no trânsito é desanimador. Ainda falta mais 48,1 km, valor esse que poderia ser perfeitamente atingido já no próximo ano.

O Plamurb chegou a sugerir, no mínimo, 200 km, mas a prefeitura manteve a meta anterior de 50 km. Resta aguardar e cobrar para que, ao menos, cumpram isso.

O fato é que mesmo que muitos torçam o nariz, verdade precisa ser dita. A última gestão a investir algo no transporte foi a de Haddad. Desde que Doria assumiu a cadeira da prefeitura, muitos inimigos e vilões imaginários foram usados como justificativa para a não implantação de faixas exclusivas e até mesmo as ciclovias e ciclofaixas. Foi um tempo precioso que perdemos. E o preço estamos pagando até o momento. Resta saber como Nunes irá conduzir a cidade olhando para a questão da mobilidade urbana. Só o fato de ter feito mais que Doria e Covas justos, já nos dá uma gota de esperança.