transito_sp-7958075
Avenida de São Paulo congestionada (Foto: Estadão Conteúdo / Correio Rac)

A poluição atmosférica é algo sério e seu combate nunca esteve tão evidente como nos dias atuais. Vejam que muitas mortes e doenças são causadas por problemas respiratórios em decorrência da baixa qualidade do ar.

Ao longo dos anos, a Companhia Ambiental de São Paulo (Cetesb), vem divulgando relatórios mostrando dados e detalhes sobre a situação do ar. A estatal possui vários pontos de medição pelo estado, de modo que a coleta permita um resultado muito consistente.

Pois bem, a empresa acaba de divulgar seu relatório do ano de 2018 e para a surpresa de muitos, apesar da expansão da frota automotiva, os níveis dos poluentes atmosféricos monóxido de carbono (CO) e dióxido de enxofre (SO2) estão entre os mais baixos da década.

No ano de 2001, a média anual de SO2 na RMSP era de 14 µg/m3, frente uma média de 2 µg/m3, em 2018, conforme divulgado pelo estudo. No caso do monóxido de carbono, desde 2008, não ocorre ultrapassagem do padrão de qualidade do ar desse poluente, em nenhuma estação da Região Metropolitana de São Paulo (RMSP).

“Apesar das variações naturais meteorológicas, a qualidade média do ar se manteve nos últimos três anos na região mais populosa do Brasil. Isso mostra o quanto impacta na qualidade de vida da população os programas e ações de controle de emissão de poluentes”, explica o secretário de Infraestrutura e Meio Ambiente, Marcos Penido.

Na RMSP, a concentração média anual de partículas inaláveis (MP10) de 29 microgramas/m³ se manteve igual aos valores observados nos últimos dois anos.

“Desde 2013, a Cetesb utiliza os padrões de referência internacionais para a medição da qualidade do ar conforme estipulado pela Organização Mundial da Saúde”, afirma a diretora-presidente da Cetesb, Patrícia Iglecias.

O documento mostra ainda que o ano passado foi marcado por condições meteorológicas que influenciaram no regime de chuvas, variando com meses chuvosos, outros secos e quentes nas regiões do estado.

Embora na maioria das estações as concentrações médias de partículas inaláveis tenham sido inferiores ou semelhantes às observadas em 2017, houve ligeiro aumento dessas concentrações em algumas estações do interior do estado, o que pode estar associado à ocorrência do longo período de estiagem. Foram registradas ultrapassagens dos padrões de qualidade do ar de material particulado (MP) em algumas estações da RMSP, da Baixada Santista e do interior.

A RMSP, que possui 39 municípios, apresenta um alto potencial de formação de ozônio devido principalmente às emissões veiculares, mesmo assim, foram registrados apenas 18 dias de ultrapassagens do padrão estadual de 8 horas desse poluente (140 µg/m3) em 2018, contra 28 dias em 2017. Apesar da diminuição do número de dias de ultrapassagem do padrão em relação ao ano anterior, o documento frisa que não há uma tendência de comportamento definida para esse poluente.

Nas estações da Baixada Santista, houve uma única ultrapassagem do padrão estadual de ozônio, em Cubatão-Vale do Mogi. No interior, ocorreram ultrapassagens do padrão de qualidade do ar do poluente nas estações de: Americana, Campinas-Taquaral, Jundiaí, Limeira, Paulínia, Paulínia-Santa Terezinha e Piracicaba.

Em termos gerais, conforme o relatório, os níveis observados para diversos poluentes, em 2018, foram inferiores ou semelhantes aos do ano anterior.

Automóveis x ônibus

Um detalhe que nos chamou a atenção no relatório foi a participação na emissão de poluentes por tipo de veículo.

Segundo a Cetesb, em 2018, os automóveis foram responsáveis por 62,91 % da emissão de poluentes na RMSP. Estão incluídos os combustíveis gasolina comum, etanol hidratado, flex-gasolina comum e flex-etanol hidratado.

Já os ônibus, que foram divididos em urbanos, micro-ônibus e rodoviários, e são movidos a diesel, foram responsáveis por 1,92 % das emissões.

No cálculo há, ainda, outras categorias, como caminhões, comerciais leves e motocicletas. Fora da área de veículos de transporte, há também as indústrias e aerossóis.

Ainda falando sobre os automóveis, a frota circulante era de 5.249.040 de veículos através de estimativa do ano de 2017. Já os ônibus, somaram 55.402, levando em conta os mesmos critérios.

Veja, considerando a capacidade máxima de passageiros dos automóveis, é certo dizer que os mais de 5 milhões de carros conseguem carregar mais de 26 milhões de pessoas. Lembrando que é uma conta grossa e arredondada para mais.

Entretanto sabemos que os carros, em média, transportam duas pessoas, então esse número cairia para 10,4 milhões.

No caso, considerando uma capacidade média de 60 pessoas por ônibus (lembrando que são micros e veículos rodoviários), tais veículos transportaram mais de 3,3 milhões de passageiros, ou seja, 7 vezes menos, considerando a capacidade máxima dos carros, ou 3 vezes menos considerando a média.

Em todo caso, se triplicássemos a frota de ônibus, eles conseguiriam transportar o mesmo que os carros e se responsabilizariam por apenas 6% da emissão de dióxido de carbono, quase 10 vezes menos que os automóveis. Há ainda um outro agravante: o espaço que os carros ocupam nas ruas, infinitamente maior que o dos ônibus.

Ainda estamos muito distantes de uma situação ideal. É preciso investir em outras tecnologias menos poluentes, como eletricidade e biocombustíveis. É necessário priorizar o coletivo e a mobilidade ativa. Como os dados acima foram baseados na RMSP, é preciso compreender a situação da região e observar que a falta de uma densa malha sobre trilhos e de políticas de transporte e habitação tem causado muitas situações adversas.

Segundo a Cetesb, em 2018 ela contou com um total de 88 estações de monitoramento, sendo 61 automáticas, 30 na RMSP, outras 31 espalhadas pelo o Estado além de 26 pontos de monitoramento manual.

A qualidade do ar é diretamente influenciada pela distribuição e intensidade das emissões de poluentes atmosféricos de origem veicular e industrial. Exercem papel fundamental a topografia e as condições meteorológicas, que se alteram de modo significativo nas várias regiões do estado. As emissões veiculares desempenham um papel de destaque nos níveis de poluição do ar dos grandes centros urbanos, ao passo que as emissões industriais afetam significativamente a qualidade do ar em regiões mais específicas.