Trólebus circulando no Terminal Bandeira usando as baterias (Foto: Thiago Silva)

A linha de trólebus 2002/10 – Terminal Bandeira/Terminal Parque Dom Pedro II é a última remanescente do exitoso Serviço Circular Central, que chegou a possuir três linhas interligando os terminais Bandeira, Princesa Isabel e Parque Dom Pedro II.

Nas últimas semanas, a linha estava operando com ônibus elétricos por baterias, pois o Terminal Bandeira está em obras e um trecho estava obstruído, obrigando a fazer uma volta alternativa. Porém, há alguns dias, os trólebus retornaram a esta linha, nos fazendo pensar que as obras já haviam sido finalizadas.

Porém, ao visitar o local, o Plamurb constatou que as obras ainda estão acontecendo no local. A rede aérea, por exemplo, está suprimida na entrada do terminal pela Rua Santo Antônio até antes sob a primeira passarela. Sendo assim, com o retorno dos trólebus, os veículos estão fazendo uso das baterias.

Há informações não oficiais de que os veículos a baterias foram remanejados para outras linhas da empresa operadora, mas ainda não conseguimos nota oficial da Ambiental Transportes.

Voltando aos trólebus, ao chegar no terminal, o motorista desce, recolhe as alavancas e prossegue a viagem por dentro do terminal fazendo uso das baterias. Ao sair do terminal, o motorista recoloca as alavancas na rede aérea e segue viagem normalmente. Por conta dessa facilidade, os trólebus podem até estacionar em outra plataforma, caso assim seja necessário e autorizado.

Isso mostra o quanto o trólebus possui muitas possibilidades e, com o avanço da tecnologia, a paralisação por quebra de rede ou falta de energia é algo superado. Em países europeus, essa tecnologia já é amplamente difundida há anos.

Isso nos faz pensar como seria essa operação 20 anos atrás, quando nenhum veículo da frota paulistana possuía as tais baterias. Certamente a operação da linha seria comprometida, sendo obrigatório o uso de veículos comuns movidos a diesel.

No passado, qualquer tipo de obstrução era o suficiente para os trólebus ficarem enfileirados paralisados em alguma via da cidade. Chegamos a presenciar a paralisação total de uma linha por conta de um rompimento da rede em um cruzamento, ou seja, por conta de um defeito em um simples cruzamento, todos os veículos daquela linha deixaram de operar naquele trecho. É algo difícil de conceber.

Por isso que o blog defende incondicionalmente o uso dos trólebus na cidade e, principalmente, que os próximos veículos que eventualmente vierem a ser adquiridos, venham com baterias, no mínimo, de média autonomia, ou seja, suficientemente para que os veículos circulem por longos trechos no centro da cidade desconectados da rede aérea. Isso permitirá a simplificação da rede nessa região e nos terminais, facilitando a manobra dos trólebus.  

Nessas horas é possível lembrar do e-Trol, que está sendo fabricado pela Eletra. Essa nova configuração de trólebus, permitirá que eles circulem por longos trechos com as alavancas recolhidas. E justamente por isso, que o futuro corredor BRT ABC possuirá rede aérea apenas em um dos sentidos.

Ricardo Nunes e Guilherme Boulos

Os dois candidatos mais bem pontuados em pesquisas recentes fizeram declarações levianas, mentirosas e completamente desconexas da realidade sobre os trólebus. O atual prefeito, Ricardo Nunes (MDB), afirmou em entrevista para a rádio CBN ano passado, que quer “tirar aquilo”, se referindo aos trólebus. O chefe do executivo, que tenta se manter no cargo, declarou que acha os trólebus, velhos, antigos e problemáticos.

Ao mesmo tempo que dá essa declaração tão obtusa, ele vem se esforçando para colocar mais ônibus elétricos a bateria na cidade, porém, sequer se preocupou com a infraestrutura de carregamento, resultando em problemas operacionais para as empresas que compraram esse tipo de veículo. É aquele ditado popular, colocaram a carroça na frente dos bois.

Ônibus elétrico com baterias rodando na linha 2002/10 (Foto: Thiago Silva)

Outro candidato que também tem uma visão totalmente errada sobre o trólebus é Guilherme Boulos (PSOL). Para ele, o trólebus é limitado, e resumiu o veículo ao simples fato da alavanca se soltar. Trólebus não é limitado. Limitada é a visão de quem acha que não há espaço aos trólebus na cidade.

A declaração infeliz foi feita durante entrevista para o canal Kritikê Podcast, realizada há cerca de 2 meses, onde Boulos discute sobre vários assuntos, entre eles a mobilidade sustentável, a tarifa zero e até a operação estatal. Nesse ponto, os apresentadores fazem menção ao trólebus. Todos os presentes ainda fizeram piada com as lembranças sobre as alavancas se soltarem e o motorista e cobrador precisar recolocar na rede. Se esquecem que a alavanca escapa, basicamente, por conta da manutenção inadequada da rede aérea e da péssima situação das vias por onde eles circulam.

De uma maneira geral, ambos estão completamente equivocados e argumentos para refutá-los, existem de sobra.

Trólebus x ônibus a bateria

O Plamurb sempre defendeu o trólebus e com bons argumentos. Infelizmente, esse tipo de veículo sofreu e ainda sofre com o desdém e a negligência do poder público. Acreditar que esse tipo de veículo é ultrapassado só reforça que as pessoas tem muito o que aprender antes de fazer declarações vazias ou obtusas.  

Não existe tecnologia melhor que a outra. O que existem são tecnologias que se complementam dentro de um programa de mobilidade sustentável. E hoje, o trólebus ainda tem vantagem com relação aos ônibus a bateria. Com a chegada do e-Trol, essa vantagem será ainda maior, uma vez que a recarga poderá ser feita ao longo da viagem, bastando estar conectado à rede aérea, ou seja, sem a necessidade de grandes estruturas de recarga nas garagens.

E-Trol fabricado pela Eletra (Foto: Eletra)

Com essa possibilidade dos trólebus com baterias, todas as adversidades usadas de forma desonestas por aqueles que são contra esse tipo de veículo, praticamente se anulam. Em outras publicações, reforçamos o que problema do trólebus é a falta de uma boa administração do poder público, que se nega a enfrentar seus problemas atuais.

Países como a França, Itália, Suíça, República Tcheca, Romênia, Bulgária entre dezenas de outros, operam trólebus supermodernos, com tecnologias de ponta e distantes da realidade brasileira. Nesses locais, os trólebus possuem bateria de longa autonomia e alavancas pneumáticas, além da rede aérea do tipo flexível e dotadas de sistemas modernos que praticamente anulam o escape das alavancas ou suas quebras.

Saindo da Europa, no México, em sua capital, os trólebus estão em plena ampliação, com novos veículos sendo adquiridos, novas linhas e rotas sendo criadas ou ampliadas. Os trólebus vêm com a tecnologia presente nos veículos europeus.

O que precisa aqui é que os prefeitos e secretários deixem de serem preguiçosos e invistam de verdade nesse tipo de veículo, sobretudo nos corredores exclusivos.