Alagamento no Rio Grande do Sul (Foto: Amanda Perobelli/Reuters)

Estamos acompanhando a triste situação no Rio Grande do Sul, onde as enchentes estão causando um grande estrago. Isso, infelizmente, acontece em outras cidades, sobretudo nas grandes metrópoles. Parece óbvio, mas para evitar isso é necessário, entre outras coisas, a desobstrução do solo que, devido a ocupação urbana, se tornou impermeável. E, claro, se afastar das várzeas dos rios, respeitando seu espaço. Sendo assim, o Plamurb vai elencar alguns pontos importantes e, claro, fazer uma crítica aos governantes que estão à frente e que poderiam, por meio de ações, mitigar os efeitos negativos.

Mais áreas verdes

Ter mais áreas verdes permite o maior escoamento da água que não tem para onde ir por conta do excesso de asfalto, de concreto ou qualquer outra coisa que bloqueia a passagem da água. Isso significa que canteiros centrais de avenidas, calçadas, parques, praças e diversos outros equipamentos precisam desses espaços.

E para quem acha que abrir mais vias para melhorar o trânsito ou reduzir os congestionamentos é algo acertado, saiba que essa ação é completamente nociva e tem grande ligação com as enchentes.

Aqui em São Paulo mesmo, o senhor prefeito Ricardo Nunes (MDB) tem como meta ampliar a Marginal Pinheiros, prologando a avenida no local onde hoje está a margem oeste do Rio Pinheiros, uma decisão, no mínimo, burra.

Asfalto permeável

Tendo relação com o tópico anterior, as cidades precisam, em suas ruas e avenidas, buscar soluções que visem o melhor escoamento da água no asfalto. Uma delas é o pavimento permeável. Esses pavimentos podem ser feitos de concreto permeável, asfalto do tipo poroso ou blocos de intertravado que permitem a infiltração da água da chuva. Em seguida, a água é infiltrada no solo ou direcionada para as galerias pluviais.

Embora com um custo elevado, quando usado em larga escala, se torna mais barato e, mais do que isso, significa um custo menor para o enfrentamento das enchentes. É aquela coisa: melhor investir mais agora do que gastar mais lá na frente para lidar com situações catastróficas.

O asfalto permeável se assemelha muito ao asfalto comum, porém ele possui espaços vazios em sua estrutura. Por esta razão, a água consegue penetrar nesses espaços, sendo levada para a camada inferior, chegando às galerias.

Pesquisadores da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli/USP) desenvolveram um tipo de asfalto poroso, chamado de pavimento antienchente. Para ler mais detalhes, clique aqui.

Praças inundáveis

Esse tipo de equipamento funciona como reservatórios de água em situações de chuva forte. Elas ficam em uma cota inferior com relação ao nível das ruas ou calçadas. Existem degraus para acessá-la. Fora do período da chuva, essas praças funcionam como áreas de lazer, podendo ter quadras de esportes, campos ou outros equipamentos de lazer.

Esse conceito é interessante porque, além de aumentar as áreas de lazer na cidade, permite precaver em situações adversas nos períodos de chuva, ou seja, o uso é pleno em todas as épocas do ano. É diferente, por exemplo, dos piscinões.

Respeitar as várzeas dos rios

Nas grandes cidades, com o avanço da urbanização, muitos rios foram tampados e houve uma ocupação em suas margens. Entretanto, essa ocupação não respeitou suas características naturais. Antes de prosseguir, é preciso entender que existem três tipo de rios: os efêmeros, que existem apenas quando incidência das fortes chuvas; os intermitentes são aqueles que secam durante períodos ao ano; e por fim, os perenes, são os que correm normalmente durante o ano todo.

Vale lembrar que os rios possuem dois tipos de leitos, aquele maior, que grosso modo fica dentro da área do rio, e aquele maior, que avança para fora, na chamada área de preservação permanente (APP). Nesse lugar ficam as matas ciliares.

Na ocupação urbana, não se respeitou o leito maior. Logo, quando chove forte, naturalmente, a água avança e invade as cidades, causando os estragos já conhecidos. E não adianta culpar a chuva ou água sabendo que o erro foi nosso. Logo, é necessário devolver o espaço aos rios.

Cidades esponjas

Todos os itens acima fazem parte do conceito de cidades esponjas. De acordo com o ArchDaily Team, cidades esponjas são cidades projetadas para que a água da chuva seja mantida e absorvida no local onde ela cai através de sistemas de drenagem urbana sustentáveis locados a partir de sua infraestrutura verde. Ou seja, ela está preparada para reduzir os danos de alagamentos, inundações e enchentes.

Investimento no transporte coletivo de massa

Pode não ter relação nenhuma, mas investimentos em transporte coletivo de massa, como trens ou BRTs permite transportamos o maior número de pessoas ocupando o menor espaço. Com isso, é possível liberar o viário, reduzindo as faixas para automóveis e possibilitando que esses novos espaços sejam retrabalhados visando a criação de locais que absorvam melhor a água das chuvas. Em outras palavras, significa devolver a cidades às pessoas.

Assim como dissemos mais acima, construir mais pistas ou faixas carroçáveis nos levam a dois problemas: mais trânsito e mais enchente. Ou seja, devemos ir, justamente, no caminho oposto.

Vamos permitir que continuem a passar boiada?

O termo “passar a boiada” ficou nacionalmente conhecido após o ex-ministro do Meio Ambiente da gestão de Jair Bolsonaro, senhor Ricardo Salles, afirmar que se poderia aproveitar as atenções voltadas à pandemia, para flexibilizar e alterar regras e legislações ambientais, em um claro aceno ao empresariado.

Os problemas que estamos vendo no Rio Grande do Sul é reflexo disso, ou seja, outros governantes aceitaram o conselho e passaram a boiada em normas ambientais que, por terem sido aprovadas, permitiu que se fizessem coisas que não se deveria.

Há informações de que o governador do estado, senhor Eduardo Leite (PSDB), alterou quase 500 normas do Código Ambiental estadual, afrouxando muitas coisas. E resultado está aí, e caso não faça algo, situações como essa poderão se repetir.

A natureza está dando um recado, um forte recado, diga-se de passagem. Resta saber se vamos continuar ignorando ou agir de forma correta enfrentando os interesses do mercado ou aqueles que querem insistir passando a boiada.