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Anhembi (Foto: José Cordeiro/SPTuris)

Quando assumiu a prefeitura de São Paulo em 2017, João Doria (PSDB) anunciou um amplo pacote de concessões e privatizações, englobando, parques, cemitérios, terminais de ônibus, o Estádio do Pacaembu e, evidentemente, o Complexo Anhembi.

Desde que abandonou a prefeitura, tais obrigações ficaram nas mãos de seu vice que assumiu o executivo, Bruno Covas (PSDB).

Covas garantiu que daria continuidade ao plano de desestatização e desde então, concentrou esforços nesse sentido. Até o momento, apenas o Pacaembu e o Parque do Ibirapuera tiveram suas concessões efetivadas.

Já o Anhembi, ainda não vingou e, a depender do resultado do leilão, parece que vai demorar um pouco para ser repassado ao setor privado.

História

O Anhembi foi inaugurado em 1970 durante a realização do Salão do Automóvel pelo empresário Caio de Alcântara Machado. O terreno, ao lado do Rio Tietê, foi concedido pelo governo três anos antes, em 1967. As obras foram iniciadas no meio do ano seguinte, em 1968.

O local nasceu com o nome de Centro Interamericano de Feiras e Salões S.A. Cinco anos depois, em 1975, por conta de uma dívida de US$ 15 milhões com um banco norte-americano, Caio de Alcântara Machado se viu obrigado a propor uma parceria com a prefeitura. Sendo assim, o governo municipal ficou com a maioria das ações da empresa, o que, na prática, a tornou estatal, ficando assim até os dias atuais.

Atualmente administrado pela São Paulo Turismo S.A. (SPTuris), o complexo do Anhembi possui mais de 400 mil m² de área total, divididos em três grandes áreas (Pavilhão de Exposições, Palácio das Convenções e Sambódromo), que possuem 18 espaços de vários tamanhos e funcionalidades diferentes.

Além de abrigar as mais diversas feiras de negócios do país, o Anhembi é palco para congressos, convenções, colações de grau, festivais, shows de artistas nacionais e internacionais, assim como apresentações esportivas – a exemplo da edição brasileira da Fórmula Indy, que aconteceu de 2010 a 2013 e foi transmitida para mais de 150 países.

Também é um lugar de entretenimento com uma das mais importantes festas da cultura paulistana: o Carnaval, realizado no Sambódromo do Anhembi, cujo projeto arquitetônico é de Oscar Niemeyer.

O Anhembi recebe anualmente mais de 3,5 milhões de pessoas e em média 150 eventos por ano dos mais diversos segmentos e tamanhos. Já passaram por lá o Papa João Paulo II, Dalai Lama, Fidel Castro, Ballet Bolshoi, Amy Winehouse, Michael Jackson, entre tantos outros.

Em 2015, foi o local da maior competição de educação profissional do mundo, a World Skills, que ocupou todos os espaços do Anhembi. Foram mais de 200 mil pessoas numa disputa de 52 profissões técnicas entre 62 países.

Sobre o leilão

O leilão do Anhembi seria realizado no dia 16 de agosto de 2019. Porém, dois dias antes, estava previsto o recebimento das propostas, fato que não ocorreu. O valor mínimo era de R$ 1,45 bilhão.

A prefeitura, na época, já considerava essa possibilidade, pois segundo ela, o valor era muito alto. Tentou, muitas vezes, junto ao Tribunal de Contas dos Município (TCM) reduzir esse valor para próximo do R$ 1 bilhão.

Após essa primeira tentativa, a prefeitura continuou, junto ao TCM, tentar reduzir esse valor, mas também não conseguiu. Segundo reportagem do jornal Folha de São Paulo, com a negativa do órgão, a privatização voltou à estaca zero, o que ocasionará, evidentemente, mais atrasos.

A prefeitura afirma que não pretende desistir do processo e já cogita elaborar um novo Edital, inclusive podendo optar por um outro modelo de desestatização, considerando, agora, uma concessão ou uma parceria público-privada (PPP), ideia essa que já era defendida na gestão de Fernando Haddad (PT). Para o Plamurb, a melhor saída, seria mesmo uma concessão, pois se trata de um serviço não essencial.

Vale mais ou vale menos?

Sinceramente, não sabemos. Não fizemos uma pesquisa com valor de mercado. As análises do Plamurb envolvem os conceitos do planejamento urbano. O que sabemos é que o Complexo Anhembi está situado em uma região estratégica. Está ao lado do Aeroporto do Campo de Marte, da Rodoviária do Tietê, da Linha 1-Azul do Metrô, da Marginal do Tietê (que permite o acesso rápido às principais rodovias que chegam na cidade), da Praça Campo de Bagatelle e não tão distante da Rodoviária da Barra Funda.

Acreditamos que todas essas características foram consideradas na hora de avaliar o preço, porém, para nós, dentro de nossos conhecimentos, nos pareceu um valor baixo, mesmo aquele estipulado pelo TCM.

Em 2016, ainda quando era candidato, João Doria chegou a afirmar que a privatização do Autódromo de Interlagos e do Complexo Anhembi renderiam até R$ 8 bilhões. Como pode, três anos depois, esse valor cair tanto? Claro, sabemos que as palavras de Doria não são dignas de confiança, mas se tratando de alguém com formação na área objeto de atuação do Anhembi, a gente espera números próximos da realidade. Afinal, não é possível que Interlagos valha, sozinho, R$ 7 bilhões.

Para nós, soa mais como uma tentativa de privatizar por privatizar, ou seja, se livrar do ativo de qualquer maneira, o que, mais uma vez, mostra como se dá o liberalismo à brasileira.

Outro ponto que merece atenção é que o Anhembi está na área onde futuramente seria implantada o Arco Tietê, projeto esse que foi engavetado pela gestão Doria, justamente, por que conflitava com seu plano de privatizar o Anhembi e fechar o Aeroporto do Campo de Marte (sob gestão federal). Percebam como há muitas coisas envolvidas?