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Região de Paraisópolis (Foto: Glauco Araújo/G1)

Há algumas semanas, a Rede Nossa São Paulo divulgou o Mapa da Desigualdade da cidade de São Paulo. Para quem não sabe, o referido Mapa é elaborado anualmente desde o ano de 2012 e traz dados de todos os 96 distritos da capital. São abordados 53 indicadores nas várias áreas da administração pública, utilizando fontes oficiais que tem como premissas a identificação de prioridades e necessidades da população.

O blog fez uma análise em cima da apresentação e focou, obviamente, nos temas abordados aqui, como habitação, meio ambiente e transporte. Embora os dados apresentados estejam claros, é possível tirar algumas conclusões sobre os motivos que levaram a eles.

MEIO AMBIENTE

Arborização Viária

Este indicador mostra a proporção de árvores no sistema viário em relação à área total do distrito (km²). É preciso lembrar que nesse cálculo não estão contabilizadas a região de parques e praças e sim apenas as árvores no eixo viário divididas pela área do distrito.

O distrito de Alto de Pinheiros segue na primeira colocação com 1804,2 árvores por km². Em seguida temos o Jardim Paulista (1573,4), Pinheiros (1562,8), Campo Belo (1505,8) e Morumbi (1377,6).

Na outra ponta temos Marsilac (3,2), Parelheiros (31,5), Grajaú (109,2), Tremembé (122,6) e Anhanguera (140,2). A diferença entre o melhor e o pior distrito é de 557 vezes, uma desproporcionalidade absurda.

É importante frisar que mesmo possuindo áreas grandes e com muito verde, isso não se traduz em uma boa arborização viária, no caso dos distritos em pior situação.

Emissão de poluentes atmosféricos

Nesta situação é descrito a emissão de Material Particulado (MP) gerado por combustão e desgaste de pneus, freios e pistas, em relação à área do distrito onde a emissão ocorreu. O resultado é obtido por meio da emissão para um dia útil típico do ano, dividida pela área do distrito.

Marsilac (0,01), Parelheiros (0,17), Tremembé (0,36), Anhanguera (0,38) e Grajaú (0,40) estão nas primeiras colocações, com a menor emissão dentre todos os distritos paulistanos.

Por outro lado, os piores cenários são encontrados na Sé (10,90), República (9,63), Bela Vista (8,24), Pari (7,45) e Barra Funda (7,32).

Os dados acima mostram, entre outras coisas, que o fato dos deslocamentos diários convergirem para o centro da cidade e as ofertas de emprego estarem nessa região, faz com que o volume de veículos de transporte seja maior e que, obviamente, as emissões de poluentes também. São mais carros e mais ônibus. Isso poderia ser diferente se a velha proposta de levar os empregos para a periferia tivesse mais empenho por parte do poder público.

Área verde por habitante

Aqui foi analisada a proporção de metros quadrados (m²) de cobertura vegetal, arbórea e rasteira, por habitante da subprefeitura.

Parelheiros (2086,08), Perus (258,51), Jaçanã/Tremembé (188,47), Capela do Socorro (99,26) e M’Boi Mirim (90,66) são as subprefeituras que estão nas primeiras colocações representando os melhores cenários.

Do outro lado da tabela, temos as subprefeituras de Sapopemba (3,65), Itaim Paulista (3,70), Vila Maria/Vila Guilherme (5,72), Vila Prudente (6,41) e Sé (6,75).

SEGURANÇA VIÁRIA

Acidentes de trânsito

O cálculo foi feito pegando o número de acidentes, dividindo pela população total e multiplicada por 10 mil. O bairro da Barra Funda ainda é o pior distrito da cidade com 54,6 acidentes. Logo em seguida, temos a Sé (43,6), Santo Amaro (40,5), Pari (40,0) e Bom Retiro (35,2). Nota-se a predominância das regiões mais centrais.

Na outra ponta temos o Jardim Ângela (4,3), São Rafael (4,9), Cidade Tiradentes (4,9), Lajeado (5,2) e Iguatemi (5,4), que são distritos mais periféricos.

Mortes no trânsito

Sé (30,6), Morumbi (28,9), República (24,5), Bom Retiro (23,7) e Santo Amaro (21,6) estão nas cinco piores colocações. O cálculo foi feito com o número de mortes, divido pela população total do distrito multiplicado por 100 mil.

Curiosamente, do outro lado da tabela, representando o melhor cenário, a Barra Funda aparece com 0,0, seguida de Cidade Líder (0,7), Vila Madeiros (0,8), José Bonifácio (1,5) e Saúde (1,5).

No caso da Barra Funda, percebe-se que o alto número de acidentes não se traduz em mortes, fato que não pode se dizer o mesmo, quando se tratando do distrito da Sé.

Atropelamentos

Atropelamentos são resultado do impacto quando um veículo atinge um pedestre. De acordo com o Relatório de Atividades de 2018 da CET, 54,9% dos atropelamentos envolveram automóveis e 26,3%, motocicletas e 10% ônibus. Porém, proporcionalmente à sua participação no trânsito, o ônibus foi o tipo de veículo com maior envolvimento nos atropelamentos: 3,2 vezes.

Sé (21,41), Brás (17,30), Pari (16,00), Barra Funda (13,34) e República (12,76) são os piores distritos com um alto número de atropelamentos.

Por outro lado, São Domingos (0,93), Perdizes (0,96), Jardim Ângela (0,97), Anhanguera (0,98) e Vila Andrade (1,21) possuem os menores índices.

Acidentes com bicicleta

De acordo com a Pesquisa OD de 2017, o uso da bicicleta cresceu 24% em relação a 2007, quando 304 mil pessoas utilizavam como principal meio de transporte e a cidade possuía cerca de 12 km de infraestrutura cicloviária. Hoje, mais de 375 mil pessoas usam a bicicleta como principal meio de transporte e circulam pelos quase 500 km de ciclovias implantadas no período.

Os distritos de Barra Funda (31,8), Bom Retiro (26,3), Sé (22,9), Pinheiros (22,8) e República (18,0) concentram os maiores números de acidentes com bicicleta.

São Rafael (0,0), Pedreira (0,6), Iguatemi (0,7), Campo Limpo 0,9) e Raposo Tavares (0,9) mostram os melhores resultados.

Acidentes com motocicleta

O uso da motocicleta na cidade tem aumentado expressivamente nos últimos anos, com destaque para os serviços de motofrete acionados via celular e o acesso a crédito. De 2007 a 2017, seu uso aumentou 48%, ultrapassando 1 milhão de viagens diárias, de acordo com a Pesquisa OD de 2017. Ainda que representem 3,8% dessas viagens, as motocicletas estão envolvidas em mais de 60% dos acidentes com vítimas e mais de 50% dos acidentes com vítimas fatais.

Novamente a Barra Funda aparece em primeiro lugar com 323,9 acidentes. Em seguida, temos Santo Amaro (271,1), Morumbi (258,1), Pari (213,3) e Sé (210,3).

Jardim Helena (21,5), Cidade Tiradentes (23,4), Itaim Paulista (25,8), Ermelino Matarazzo (27,2) e Lajeado (27,8) possuem índices melhores, embora, ainda, preocupantes.

Acidentes com automóveis

Os automóveis representam pouco mais de 40% das viagens diárias, de acordo com a Pesquisa OD 2017. Ainda assim, estão envolvidos em mais de 70% dos acidentes com vítimas e quase 50% dos acidentes com vítimas fatais.

A Barra Funda (362,0) segue na liderança, acompanhada, em seguida, de Santo Amaro (280,6), Pari (272,0), Morumbi (256,2) e Sé (256,2).

Representando um cenário melhor, na outra ponta da tabela, temos o Jardim Ângela (24,9), Cidade Tiradentes (30,4), São Rafael (31,3), Iguatemi (31,7) e Grajaú (32,5).

Dentro dessa área, nota-se que o distrito da Sé apareceu em todos os indicadores com as piores situações, variando entre a primeira e a quinta colocação, o que acende o sinal de alerta quando se fala em políticas de segurança viária. A Barra Funda apareceu cinco vezes nos indicadores dentro das piores situações.

De uma maneira geral, o centro tem sido uma das piores regiões e isso vem se arrastando há tempos sem que a prefeitura, por meio de suas ações, consiga reverter ou reduzir tais situações.

HABITAÇÃO

Favelas

Assentamentos informais são um reflexo de uma sociedade desigual, que não oferece moradia para a população mais vulnerável. Em função dessa falta de políticas públicas, muitas vezes, essa população se estabelece em ocupações irregulares e áreas de risco, sem nenhuma segurança jurídica.

Essa situação acaba gerando um outro problema, neste caso, a falta de saneamento básico, não abordada pela Rede Nossa São Paulo de forma direta, mas que está inserida em problema de saúde.

Voltando a falar das favelas, o cálculo foi feito se levando em conta o número total de domicílios em favelas, dividido pelo número total de domicílios e multiplicado por 100.

Vila Andrade aparece na liderança (49,15), seguida de Brasilândia (29,60), Sacomã (27,98), Vila Sônia (27,72) e Capão Redondo (27,66).

Por outro lado, na outra ponta da tabela, Alto de Pinheiros, Bela Vista, Brás, Cambuci e Consolação são os primeiros cinco distritos sem a existência de favelas. No total, a cidade tem hoje onze distritos onde não existem favelas.

Caso tenha interesse em conhecer os outros indicadores que fazem parte do mapa da desigualdade, basta clicar aqui. O Plamurb, como já dito, focou apenas nos temas abordados costumeiramente. Mas reforçamos que o estudo é muito interessante e vale a pena ler na íntegra.