Trem da Linha 11-Coral na Estação Brás (Foto: Thiago Silva)

Dando continuidade aos comentários sobre as audiências públicas, hoje abordaremos as projeções para as linhas 11-Coral e 12-Safira que possuem dificuldades, mas os representantes do governo talvez ainda não tenham entendido isso. Vamos lá:

Linha 11-Coral até César de Souza e eliminação de todas as passagens em nível

Uma das propostas dessa concessão é remover todas as passagens em nível na cidade de Mogi das Cruzes. A questão é: a prefeitura da cidade de Mogi das Cruzes está de acordo com isso? Quem fará o investimento e como ele será feito? Entre Suzano e Estudantes existem várias passagens em nível. Se considerar aquela após Estudantes, esse número aumenta mais ainda, chegando a cerca de 10 interferências. Algumas delas são até próximas. Além do investimento, tem a questão as intervenções.

Historicamente, sempre foi desejo retirar tais passagens, mas nunca se conseguiu e por diversas razões. Em alguns momentos, a própria prefeitura se colocava contra. Em outros momentos, eram os moradores que, reunidos, manifestavam desacordo com a ideia. Como que, agora, o governo afirma que vai retirar todas elas, assim sem dificuldades? Há casos em que uma passagem inferior ou viaduto foi construída, mas a passagem em nível não foi removida definitivamente.  Isso deve estar bem claro muito antes de pensar em fazer concessão.

Ao ser questionado, o senhor Augusto Aumudin, da Companhia Paulista de Parcerias (CPP), que estava apresentando o projeto, reconheceu as dificuldades, porém afirmou que um convênio com a prefeitura de Mogi das Cruzes será firmado para viabilizar as remoções. Porém, isso é algo para ser efetivado agora, e não depois da assinatura do contrato.

Sobre a extensão para César de Souza, é uma demanda histórica dos mogianos. Porém, após Estudantes, a concessão é federal e pertence à empresa MRS. Além disso, a via é singela. Como isso seria tratado? A MRS vai permitir a operação da Linha 11 até César de Souza? Vão se implantar via dupla ou fará operação em via singela? Isso precisa estar claro antes de finalizar a concessão para que não seja um projeto cheio de remendos.

Vale ressaltar que, recentemente, na concessão da Linha 2 do metrô de Belo Horizonte, após a assinatura do contrato, se constatou que talvez não seja possível implantar via dupla em parte da Linha 2. A nova operadora do metrô de lá sugeriu para a prefeitura que um trecho de 2 km, compreendendo as duas últimas estações da Linha 2, seja operadora em via singela, pelo fato de não haver espaço físico e para não conflita com a operadora de transporte de carga, que coincidentemente é a MRS. Seria lamentável se a mesma situação se repetisse aqui em São Paulo.

Ao ser questionado, o responsável pela apresentação se limitou a dizer que será feito um acordo com a MRS, possibilitando o uso da faixa e a duplicação total da via em toda a extensão entre as estações Estudantes e César de Souza, mas sem especificar como e quando será e se, de fato, haverá a cessão do espaço para o prolongamento da Linha 11-Coral.

Passagem em nível após a Estação Estudantes (Foto: Google Street View)

Linha 12-Safira até Suzano

Para que seja possível levar a Linha 12 até Suzano, é preciso, antes de mais nada, colocar um par de novas vias para que os trens consigam trafegar entre Calmon Viana e Suzano. Porém, não há espaço físico para isso. Hoje, a via que margeia os trilhos é a Avenida Brasil, sendo assim, é necessário suprimir parte dessa avenida, que, diga-se de passagem, é uma das mais importantes e movimentadas da cidade. Como isso está sendo negociado? A prefeitura da cidade de Suzano já está ciente disso?

Vale lembrar que do lado norte, há a via para o transporte de cargas, totalizando três vias. Sendo assim, para que a Linha 12-Safira possa chegar em Suzano, seriam necessárias 5 vias. Como fazer isso sem o estrangulamento do trânsito? Uma coisa que precisa ficar clara: por mais que o Plamurb defenda o uso do transporte público incondicionalmente em detrimento ao transporte individual, as coisas precisam estar mais bem estruturadas. A única forma de conseguir isso, seria suprimir completamente o canteiro central e a ciclovia da avenida, deslocando as vias da Linhas 11 para o sul. Para variar, o que estamos vendo, são projetos muito mal elaborados e que esbarram em questões complexas, mas que deveriam ter sido contempladas nos estudos.

Novamente, como resposta a esse questionamento na audiência pública, foi dito que será possível esse prolongamento e que “a via já está em um local adequado”, de acordo com as palavras do senhor Augusto Aumudin. Até agora estamos tentando entender essa fala. Não, não existe via para levar a Linha 12 até Suzano. Repetindo: o que existe hoje são três vias, uma para o transporte de cargas e outro para a Linha 11.

Imagem de satélite da Avenida Brasil (Foto: Google Satélite)

Expresso Aeroporto

O Expresso Aeroporto liga a Barra Funda ao Aeroporto de Cumbica em menos 40 minutos. A tarifa cobrada hoje é a pública, praticada nas demais linhas, ou seja, R$ 5,00. Qual a garantia de que esse valor não será aumentado?

É importante questionar isso, porque quando a CPTM operava a Linha 9-Esmeralda, sempre que havia evento no Autódromo de Interlagos, ela reduzia os intervalos e aumentava a oferta de lugares. Pois bastou a ViaMobilidade assumir a Linha 9, que eles criaram um Serviço Expresso para o evento The Town, cobrando valores altíssimos e prejudicando a operação da linha regular. Lembrando que eu, Thiago, fui ao The Town e vi pessoalmente como a linha regular foi prejudicada.

Que garantia a população poderá ter de que não aumentarão o valor do serviço Expresso Aeroporto para um maior retorno financeiro para a iniciativa privada?

Vale lembrar que na Copa do Mundo de 2014, a CPTM criou o Expresso Copa, ligando a Luz até Itaquera e, também, cobrou o mesmo valor da tarifa pública da época. Sabendo que a Copa do Mundo feminina será realizada no Brasil no ano de 2027, que garantia teremos que não vão cobrar uma tarifa maior, caso se opte em recriar o Expresso Copa?

E sem nenhuma surpresa, foi dito apenas que o Expresso Aeroporto terá o mesmo valor da tarifa pública vigente. Simplesmente mais uma resposta vazia.

Fica difícil acreditar em prosperidade diante de um cenário tão obscuro. Mas o Plamurb continuará analisando o material das audiências.