Montagem de quatro fotos tiradas nos dias 13 e 14 de junho (Foto: Thiago Silva)

Parece força de expressão fazer esse tipo de afirmação que está no título deste artigo, porém, a realidade está aí para quem quiser comprovar. Não se trata de torcer contra, como alguns devem estar pensando e sim fazer apontamentos certeiros que muitos se negam por acreditar que a melhora virá.

Vejamos, desde que o senhor governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) assumiu o governo estadual, ele vem moldando sua gestão em privatizações e nada além disso. De cada 10 palavras, 9 é sobre privatizar ou conceder algum serviço, o que mostra que não quer administrar nada, apenas delegar a atividade a algum terceiro. As linhas 8-Diamante e 9-Esmeralda estão aí para comprovar.

Quando o Ministério Público (MP) ameaçou entrar na justiça para romper o contrato da ViaMobilidade, Tarcísio saiu em defesa da concessionária, sustentando uma operação sofrível e bem longe daquilo que a CPTM praticava nos anos imediatamente anteriores à concessão. Em algumas das declarações, ele dizia saber o que era melhor ao paulista e que confiava na melhoria da ViaMobilidade, melhoria essa que ainda está muito longe de chegar. Provavelmente o governador nunca colocou os pés dentro de um transporte público.

Entre uns afagos e outros, Tarcísio já demonstrou ser o “funcionário do mês” da concessionária, fazendo elogios públicos e depreciando completamente empresas como o Metrô ou a CPTM que, guardadas as devidas proporções, estão muito à frente dessa concessionária que faz aquilo que tanto critica: depender do Estado.

Pois bem, nos dias 13 e 14 de junho precisei usar as linhas 9-Esmeralda e 8-Diamante. A primeira, no trecho entre Pinheiros e Presidente Altino e a segunda entre Presidente Altino e Barra Funda, em horários diferente, evidentemente. Confesso para vocês que desde a concessão, quase não usei mais as linhas. No dia em questão, digamos que foi a prova real. E o que senti mostra que, sem dúvidas, estamos caminhando para uma degradação total do sistema sobre trilhos.

Na parte da manhã do dia 13 de junho, cheguei à plataforma da Estação Pinheiros exatamente às 08h02. Eu iria andar duas estações depois, ou seja, Cidade Universitária e Villa Lobos-Jaguaré, meu destino. Um trem havia acabado de sair. Então aguardei o próximo. Algum tempo depois veio o serviço do looping interno de Pinheiros, que desembarcou todos ali. Sabe quando chegou o outro trem para Osasco? 08h17. Não, você não leu errado. Foram 15 minutos de espera na Estação Pinheiros. Quando o trem chegou, ele estava absurdamente lotado. Tiver que embarcar mesmo assim. Dentro dele, haviam funcionários da ViaMobilidade e pude ouvir a partir de seus rádios que alguns trens estavam falha de porta próximo da outra ponta da linha. E, detalhe: eu estava no trem novo.

Detalhe da sujeira do trem novo da ViaMobilidade (Foto: Thiago Silva)

No fim da tarde, minha viagem foi diferente. Fui de Villa Lobos-Jaguaré até Presidente Altino e, depois, transferi para a Linha 8-Diamante com destino à Estação Barra Funda. A Linha 9, novamente, estava demorada. O trem chegou muito cheio. Ao desembarcar em Altino, aguardei cerca de 5 minutos, um intervalo condizente. Porém, o trem que veio estava completamente largado. Neste caso, era um trem da série 7000, mas dos que não serão devolvidos para a CPTM.

Enquanto me dirigia para a Barra Funda, notei alguns ambulantes que abriam a porta e passavam entre os carros. Essa porta estava destravada e ficava batendo com o balançar do trem. Acima dela há um Pequeno painel eletrônico que mostra a data e hora. Ele também estava solto e ficava balançando ao longo da viagem. A parte externa do trem estava suja de cinza, como se tivessem jogado cimento seco. Entre as estações Domingos de Morais e Barra Funda o trem foi em velocidade bem abaixo do normal. Internamente, a composição estava suja.

No dia seguinte, 14 de junho, fiz o mesmo roteiro. Cheguei em Pinheiros um pouco mais cedo e resolvi marcar o tempo de chegada de cada trem. Os intervalos, dessa vez, estavam bem melhores. Vejam só: 7h46 (looping Pinheiros), 7h50 (Osasco), 7h56 (looping Pinheiros), 8h00 (Osasco), 8h03 (looping Pinheiros). Aproveitei para tirar algumas fotos da estação e dos trens. Depois segui para a Estação Villa Lobos-Jaguaré. Cheguei nela às 8h14. O trem seguinte passou às 8h26, ou seja, 12 minutos de intervalo fora do trecho de looping. Continuei na estação e o próximo trem chegou às 8h38, também com 12 minutos de intervalo. Eu elogiei cedo demais. Lembrando que o intervalo máximo desse trecho deveria ser de 8 minutos de acordo com o edital de concessão.

Intervalos das duas linhas (Foto: Governo do Estado)

No fim da tarde, tornei a usar a Linha 9-Esmeralda, só que dessa vez fui para Pinheiros. O trem demorou um pouco. Quando chegou, notei sujeira na parte de fora. Havia manchas de graxa ao lado da porta. Internamente, também, sujeira. É de se estranhar como os trens novos estão tão mal cuidados. Incrível. E os trens da série 7000 estão em situação ruim. É impressionante como houve uma queda visível na qualidade do serviço prestado nas linhas 8 e 9. Além dos intervalos acima, os trens, mesmo os novos, não estão sendo limpos ou lavados como se deveria.

A situação das linhas 8 e 9 se opõe completamente às declarações do senhor Francisco Pierrini, Diretor da ViaMobilidade. Há algumas semanas, ele esteve na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) para prestar depoimento acerca dos problemas das linhas. E diante dos deputados, o que ele afirmou, nem de longe corresponde ao que eu vi nesses dois dias e em um pequeno trecho de ambas as linhas. É inacreditável que haja tanta dissimulação e negligência em cima de um serviço público de cunho social.

Porta e painel eletrônico soltos e sujos de um trem da Linha 8-Diamante (Foto: Thiago Silva)

Toda essa descrição vai ao encontro da degradação do transporte sobre trilhos que já se desenhou e está caminhando a passos largos para um futuro obscuro que poderá chegar a um sucateamento, caso nada seja feito. Não é possível que um governo que se vendeu como técnico (nós nunca acreditamos nisso) sustente uma concessão tão ruim e sofrível. Evidentemente que o chefe do executivo tem seu viés ideológico, porém, tudo tem (ou deveria ter) um limite. O que vi pessoalmente é um cenário devastador, e bem diferente daquilo que presenciava quando a CPTM ainda operava as linhas. Se antes a desculpa era a falácia dos trens “velhos”, porque que com as composições novas a operação ainda está muito aquém do ideal. Qual a razão desses trens novos estarem tão sujos e mal cuidados?

Sei que o relato desse artigo não traz nada de novo para quem usa as duas linhas diariamente, porém é sempre bom ter mais opiniões reforçando uma situação crítica e que alguns fecham os olhos para não ferir o próprio ego ou orgulho.

Infelizmente tudo aquilo que foi construído pelo Metrô e CPTM, enquanto empresas públicas, está se perdendo aos poucos em função de uma preferência pela iniciativa privada que nem de longe possui aquela iniciativa que se espera. Por trás de tudo isso está a mercantilização do transporte que agravará a desigualdade social em futuro breve. São Paulo poderá ser uma das raras grandes metrópoles a não possuir mais um operador público, o que, por si só, é um risco iminente.

Aqueles que estão hoje soltando rojões à medida que as concessões avançam, certamente irão se arrepender dentro de pouco tempo. Colocar um serviço público essencial monopolista nas mãos do capital privado é um grave erro, tanto de quem faz, quanto de quem apoia. Iremos retroceder horrores. E sabe o pior? Mesmo com tudo isso, a ViaMobilidade brevemente poderá solicitar algum reequilíbrio financeiro. E de acordo com nosso último artigo, o governador Tarcísio, certamente acatará para não se indispor com a tal “iniciativa” privada.